segunda-feira, 29 de junho de 2009

Kylie Minogue no Pavilhão Atlântico, sábado, 4 de Julho..


«EM 1987, muito pouca gente apostaria que aquela cantora de 19 anos, cabelo louro aos caracóis e sorriso aberto, já perto de ser uma estrela da televisão australiana e com um single chamado 'I Should Be So Lucky' nos tops de todo o mundo, ainda seria ouvida e falada dali a cinco anos, quando mais ao cabo de duas décadas. Sucede que Kylie Minogue teve mesmo sorte, ingrediente que adicionou ao talento e a uma percepção raríssima do ar do tempo para dar por si, vinte e tal anos depois, um inequívoco ícone pop. Um ícone que visita palcos portugueses pela primeira vez no próximo sábado, 4 de Julho, no Pavilhão Atlântico lisboeta, nos últimos suspiros de uma década conturbada que abriu com a sua captação do zeitgeist por via do perfeito 'Can't Get You Out of My Head', mas que também incluiu o susto de um cancro da mama.

Já esteve em Portugal?
Visitei Portugal uma vez, provavelmente em 1990, ou à volta disso. Dessa vez entrei e saí do país. Nunca lá passei um tempo significativo, por isso estou entusiasmadíssima por, finalmente, fazer um espectáculo em Portugal.

Por estes dias, anda a actuar em diversos países pela primeira vez: não só em Portugal mas também na Polónia e em Marrocos. Está a gostar da experiência de visitar, de uma assentada, uma data de sítios que faltavam na sua caderneta?
Absolutamente. Estou a adorar. É óptimo tocar em sítios onde nunca estive, onde ainda não tenho uma ligação com o público nem uma percepção do que esperar desse público. Fazer espectáculos em locais novos é sempre interessante, e quando finalmente lá chegamos costuma ser um alívio. Depois de Portugal, mas ainda este ano, vou fazer uma digressão pelos Estados Unidos. Este é o meu ano para realizar os concertos e fazer as coisas que realmente me apetecem. Desta vez, tenho espaço na minha agenda para avançar com umas actuações mais... aleatórias. Um dia estava a 2500 pés de altitude numa montanha na Áustria, a seguir dei por mim em Marrocos... Tem sido tudo muito divertido. Adoro a minha banda, adoro estar em palco. Além disso, estes concertos não servem de promoção a nada - existem apenas pelo prazer de os fazer.

Em que consiste o espectáculo que traz a Portugal? Os concertos que tem realizado são uma espécie de aquecimento para a primeira digressão americana da sua carreira?
Não são um aquecimento (risos). Os concertos deste ano são, de certa forma, uma extensão daqueles que realizei no ano passado, na tour "X2008". Não podem ter a mesma dimensão desses shows, até porque nessa altura não havia planos para vir para a estrada este ano. Parte do material usado nessa tour já não existe, mas acho francamente agradável que os espectáculos em curso sejam, de certa forma, diferentes. Além disso, muitos dos locais por onde estamos a passar impõem algumas limitações. Um bom exemplo disso foi a data em Ischgl (Áustria), para onde tudo teve de ser transportado por teleférico. Para Lisboa tentarei levar tudo o que for possível, mas, independentemente de questões técnicas, o que não faltará será boa energia e entusiasmo. Todos os extras... adoro contar com eles, mas o ponto fulcral dos concertos sou eu e o público.

Antes do arranque da tour "For You, For Me" nos Estados Unidos, no final de Setembro, deve chegar às salas o filme "Blue", uma produção de Bollywood na qual você, tanto quanto li, tem um papel de relevo. O que nos pode contar sobre isso?
Na verdade, não faço parte do elenco principal. Apenas interpreto uma canção. Adoro os filmes de Bollywood, e uma das minhas fitas favoritas é "Om Shanti Om", cuja realizadora (Farah Khan) é também uma coreógrafa maravilhosa, e foi ela que elaborou o meu momento em "Blue". A experiência foi sensacional. Nunca tinha estado na Índia. A minha canção foi escrita e produzida por A.R. Rahman, que ganhou dois Óscares com o "Slumdog Millionaire".

A sua carreira como actriz, embora tenha arrancado uns bons anos antes de se virar para os discos, foi remetida para segundo plano mal as canções começaram a ter êxito, mas ficou sempre a sensação que gostaria de voltar a ter uma carreira sólida na representação. Tenciona prestar mais atenção a essa faceta no futuro próximo?
Sim, gostaria muito que isso acontecesse. A representação está presente na minha vida desde a infância, foi esse o meu primeiro emprego 'oficial', quando tinha 11 anos. Creio que venho usando a minha destreza como actriz em muito do que faço, desde a entrega na interpretação das canções aos vídeos e mesmo às sessões fotográficas, todas elas situações em que nos transformamos numas personagens ligeiramente diferentes. A Beyoncé tem sido óptima a explorar esse tipo de transformação com "I Am... Sasha Fierce". Identifico-me por completo com essa mudança: quando actuamos, tornamo-nos versões diferentes de nós próprios. Em relação à representação, não sei o que farei ou quando o farei. Vamos ver o que acontece.

Vem trabalhando no seu próximo álbum de originais. O que é que já está feito?
Neste momento não lhe posso dizer muita coisa, porque está numa fase bastante embrionária. Tenho estado em estúdio com dois produtores diferentes e sinto-me muito inspirada para me lançar num novo disco, que irá, provavelmente, reflectir a digressão do ano passado. Fiz imensos concertos, tinha uma banda nova, e esses excelentes músicos tornaram-se meus amigos. Sinto que sou capaz de manter aquele tipo de energia e de música (da tour de 2008), uma música que já não é electro ao ponto de se tornar difícil de reproduzir ao vivo. Quer dizer, o que faço terá sempre um lado electro, mas quero encontrar um maior equilíbrio entre isso e o que é possível criar, em termos musicais, em cima de um palco. Os últimos anos têm sido tão marcados por clicks e bleeps e ruídos esquisitos que as coisas estão a virar para um back to basics.
Que tipo de música a inspira neste momento? O que anda a ouvir?
Tenho andado a dar com toda a gente que me rodeia em doida à custa do álbum da Ladyhawke. É um disco fenomenal, amo-o. E também gosto muito do disco dos Empire of the Sun. Eles são australianos e a Ladyhawke é da Nova Zelândia (risos), mas não estou a ser tendenciosa. Também andei viciada nos Kings of Leon e nos The Killers, que são os meus preferidos do ano passado.

Leu "Words and Music", um livro de 2005 em que Paul Morley constrói uma espécie de história da música popular a partir de 'Can't Get You Out of My Head'?
Não, não li (risos). Você leu?

Sim, é um tratado simultaneamente insano e genial. Mudando de assunto: teve de fazer grandes mudanças na sua forma de estar em palco depois de lhe ter sido encontrado um tumor e do tratamento a que se submeteu em 2005 e 2006?
Tive de me tornar mais moderada. Em vez de realizar quatro concertos noutros tantos dias, faço dois e a seguir tenho um dia de folga. É o tipo de decisão que causa arrepios na espinha do meu manager (gargalhadas). Não será a melhor decisão em termos económicos, mas, depois do que aconteceu, eu e as outras pessoas ganhámos consciência de que sou humana e que não podia prosseguir ao ritmo de antigamente, pelo que procedemos a alguns ajustes. Neste momento, estou a fazer uso de tudo o que aprendi nos últimos 20 anos. É por isso que gosto tanto de estar em palco. Não stresso nem passo o dia inteiro atormentando-me, que era o que costumava fazer. Agora, subo ao palco com a consciência de que... é isto que faço.

Sobretudo nesta década, você tornou-se uma figura admirada na cultura pop e mesmo noutros universos mais distantes. Às vezes, a coisa parece rondar o consenso. Isso fazia parte do plano?
Jamais (risos)! Acho que ficarei sempre surpreendida com isso. É difícil avaliar o que os outros vêem em nós - esta é a minha vida, isto é o que eu faço, e sinto-me feliz desde que ande a fazer alguma coisa criativa. Mas saber que esta onda não pára de se expandir é verdadeiramente incrível. Sinto-me muito, muito afortunada por ter estes meios de comunicação. Adoro comunicar, quer seja cantando, ou através de vídeos, ou pela escrita, ou outra coisa qualquer. Gosto de explorar formas diferentes de dar corpo à criatividade, o que também pode passar por perfumes ou livros, que são diferentes projectos paralelos que mantenho - pequenos projectos, mas bastante recompensadores.»
in Expresso online, 29-6-2009


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