A cantora brasileira Fafá de Belém não só tomou para si o nome da cidade onde nasceu como é uma coleccionadora de histórias do lugar. "A lembrança mais remota da minha vida são os cheiros e os sabores de Belém", diz. "Ali existe uma overdose de paladares e uma variedade enorme de raízes, sementes, cascas de árvores e frutas que é preciso experimentar para depois reflectir."
Como toda a paraense, é capaz de viver em qualquer parte do mundo, mas 'leva' sempre um pouco do Pará consigo. "Eu posso estar no Rio, no Alentejo ou no Porto e na minha geladeira você vai encontrar ingredientes para fazer um vatapá. Dou um jeito de passar na alfândega levando o que preciso. Quando volto de Portugal também nunca deixo de trazer um chouriço escondido na mala", conta entre gargalhadas.
Um dos seus amigos na cidade é o chefe Paulo Martins, dono do Lá em Casa, restaurante que ela recomenda sem reservas. "Para vocês terem uma ideia do talento do Paulo, basta dizer que o catalão Ferran Adrià, que é uma estrela internacional, foi a Belém no final do ano passado para conhecer Paulo Martins e reverenciá-lo pelo seu trabalho de valorização da cozinha amazónica."
A cidade tem tradições só conhecidas de quem é de lá. Uma das mais inusitadas é o hábito de tomar sopa de tacacá às cinco da tarde, na banca da Dona Marina, e depois seguir para a sorveteria Cairu, que faz os melhores gelados locais. No périplo gastronómico de Fafá não podem faltar caipirinhas de taperebá e graviola nem sucos de frutas de murici, cupuaçu e graviola.
Além de oferecer mesa farta e exótica, Belém é uma cidade arborizada, com construções remanescentes do período colonial. Um dos conjuntos arquitectónicos mais interessantes é o complexo Feliz Lusitânia, premiado pela Unesco como exemplo de restauração do património. A cidade foi ali fundada pelo algarvio Francisco Caldeira Castelo Branco. Na praça é possível visitar a Sé, o Museu de Arte Sacra e o Forte do Presépio. Junto a esses monumentos fica o palacete das Onze Janelas, erguido por um senhor de engenho e que hoje é uma espécie de restaurante e bar, com música ao vivo, onde os embalos seguem madrugada dentro.
Imperdoável para Fafá é ir a Belém e não visitar a ilha do Marajó ou a ilha fluvial do Mosqueiro, a 70 quilómetros da capital, onde há chalés construídos pelos ingleses na época do ciclo da borracha. Entre os passeios obrigatórios, ela cita o Museu dos Minerais, com o seu jardim de pedras preciosas e o Museu Emilio Goeldi, fundado em 1866 por um grupo de intelectuais e naturalistas preocupados em estudar a fauna e a flora da região.
A festa popular mais importante é o Círio de Nazaré, celebrada no segundo domingo de Outubro, quando milhares de pessoas ocupam as ruas e os turistas esgotam todos os hotéis. Para Fafá, independentemente de qualquer roteiro turístico, é preciso ir a Belém com tempo "para assistir ao pôr-do-sol nas Docas, ver as crianças colhendo mangas nas ruas na hora da chuva e passar algumas horas no mercado Ver-o-Peso, junto ao rio, para descobrir o que existe só ali e que por isso é tão único e especial."
Na agenda da Fafá
Melhores restaurantes
Estação das Docas - Antigos armazéns reformados, onde há vários restaurantes, bares, cervejarias, livrarias. Boulevard Castilho França, 707.
Livraria Jinkins - Perseguidos na época da ditadura, os donos conseguiram manter a livraria como um ponto de liberdade na cidade. Rua Tamoios, 1592.
Hotéis - Hilton e Crowe Plaza. Ela tem uma suite permanentemente reservada em cada um.
Mercado Ver-o-Peso - Ponto turístico às margens da Baía do Guajará, que engloba o mercado de peixe, cuja estrutura de ferro foi toda trazida da Inglaterra, e uma feira de frutas, raízes, sementes, legumes, que funciona ao ar livre.
O que comprar - Banho de Cheiro, perfume típico de Belém, feito com ervas amazónicas. Na Perfumaria Orion, Rua Frutuoso Guimarães, 270.
Produtos Juruá - Sabonetes, cremes, champôs, essências e óleos. Artesanato Juruá. Rua Deodoro de Mendonça, 319.
Vídeos:
in Expresso online, 16-5-2009
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